Terceiro mandato de Lula já soma 25 novos impostos e reacende debate sobre carga tributária

Desde que Luiz Inácio Lula da Silva voltou ao Planalto para seu terceiro mandato (em 1º de janeiro de 2023), o governo federal adotou pelo menos 25 medidas tributárias que alteraram impostos, taxas ou contribuições com efeitos diretos na arrecadação nacional.  Esse cenário reacende com força o debate sobre quanto pesa o Estado no bolso do cidadão e das empresas.

Principais mudanças tributárias

Algumas das medidas mais relevantes adotadas até agora:

Medida

O que mudou / criado

Impacto / crítica

Reversão de alíquotas reduzidas de PIS/Cofins sobre receitas financeiras

Voltou-se às alíquotas anteriores, desfazendo cortes feitos em 2022

Aumenta custo para grandes empresas 

Retomada de PIS, COFINS e CIDE sobre gasolina e etanol

Tributos suspensos voltaram a incidir a partir de março de 2023

Elevação do preço dos combustíveis ao consumidor final 

Imposto sobre remessas internacionais / “taxa das blusinhas”

Remessas abaixo de US$ 50 começaram a ser tributadas em alguns casos

Atinge consumidores de e-commerce internacional 

Tributação de apostas eletrônicas (“bets”)

Cobrança sobre receita bruta das operadoras

Setor regulado, mas cobrado com críticas pela carga elevada 

Impostos para importação de painéis solares / veículos elétricos

Alíquotas mais altas para esses produtos

Pode frear investimento em energia limpa / inovação 

Inclusão de benefícios fiscais na base do IRPJ / CSLL

Incentivos concedidos pelos estados passaram a ser tributados pela União

Reduz margem de manobra para políticas locais 

Limitação do uso de Juros sobre Capital Próprio (JCP)

Restrições à forma como empresas usam esse mecanismo para deduzir impostos

Pode reduzir planejamento tributário de empresas 

Aumento do IOF e ajustes em operações financeiras

Elevação de alíquotas para crédito, câmbio, seguros, remessas

Gerou forte reação de mercado e embate no Congresso 

Criação do Imposto Seletivo

A ser implementado: incidirá sobre produtos como bebidas açucaradas, automóveis etc.

Visão regulatória “imposto do pecado”, afeta consumo 

Encerramento de benefícios do setor de eventos (Perse)

Programa de isenção para eventos foi limitado ou extinto

Impacto negativo para cultura e entretenimento 

Além dessas, há outras alterações menores e ajustes estratégicos no sistema tributário que somam esforço de arrecadação. 

Reações e controvérsias

Parlamentares e entidades empresariais criticam que o governo aumentou impostos 24 a 25 vezes no período, uma média de um “pacote tributário” a cada 37 dias.  O governo defende que as medidas são necessárias para fechar lacunas, ampliar justiça fiscal e recompor receitas, enquanto enfrenta resistência quanto ao peso que isso vai impor ao crescimento econômico.  Em 2025, motivado por forte reação do Congresso e da sociedade, o governo teve que recuar parcialmente sobre a elevação do IOF.  Essa disputa abriu um racha entre Executivo e Legislativo, com votação que derrubou o decreto de aumento do IOF e desencadeou ação judicial para validar atos fiscais.  Também foi apontado que parte das medidas anunciadas não chegaram a entrar plenamente em vigor ou foram ajustadas, o que gera incerteza jurídica para o setor privado.  Críticos argumentam que aumentar tantos tributos em curto espaço penaliza o consumo, desencoraja investimentos e pode aumentar desigualdades, enquanto apoiadores dizem que é inevitável ajustar finanças públicas fragilizadas.

Contexto institucional: reforma tributária e mudança de modelo

A esse cenário soma-se a Emenda Constitucional 132/2023, que promoveu a reforma tributária do consumo. A ideia é unificar vários tributos (ICMS, ISS, IPI, PIS, Cofins) em um modelo de Imposto sobre Valor Agregado (IVA) com cobrança única, dividida entre União (CBS) e estados/municípios (IBS).  Também foi instituído o Imposto Seletivo para bens “especialmente nocivos”. 

Mas a transição será gradual, e muitas das medidas emergenciais (aumentos de impostos “à la carte”) ainda coexistem até que o novo modelo esteja plenamente implementado.

O que vem pela frente

Analistas estimam que o governo continuará buscando novas fontes de receita seja por meio de ajustes no IR, taxas sobre grandes fortunas, ou expansão de obrigações fiscais sobre renda financeira e patrimônio. Há expectativa de novos embates com o Congresso e setores sociais.

Para o cidadão comum, o desafio será sentir como cada mudança tributária afeta seu dia a dia: no preço dos combustíveis, contas domésticas, investimentos, produtos importados e na remuneração dos trabalhadores.

Related Articles