Após décadas de alerta ignorado, agência americana bane oito corantes artificiais utilizados amplamente em alimentos infantis. Estudos apontam efeitos severos no desenvolvimento neurológico de crianças.
A Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, anunciou nesta semana a proibição de oito corantes artificiais derivados do petróleo, utilizados há décadas em alimentos industrializados. A decisão, considerada histórica, reacende um alerta antigo: os riscos invisíveis presentes nos alimentos que chegam diariamente ao prato de milhões de crianças ao redor do mundo.
Do petróleo para a lancheira
Na década de 1920, a indústria petroquímica encontrou um novo uso para resíduos de petróleo: a produção de corantes para alimentos. Compostos como Vermelho 3, Amarelo 5, Azul 1 e outros passaram a colorir doces, cereais, sucos, bolos e bebidas consumidos especialmente pelo público infantil. À época, foram tratados como símbolos de modernidade. Hoje, com base em evidências científicas, são classificados como riscos evitáveis.
O impacto no corpo infantil
Diversos estudos ao longo dos anos associaram esses corantes a uma série de problemas de saúde, como:
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) Obesidade precoce Distúrbios do sono Inflamações cerebrais Reações alérgicas severas
Segundo especialistas, crianças rotuladas como “difíceis” muitas vezes estão apenas reagindo à química presente em seus alimentos. Há registros de melhora significativa em quadros de TDAH apenas com a exclusão desses aditivos da dieta.
Corantes com efeitos comparáveis ao chumbo
Estudos laboratoriais revelam que corantes como Red 40 afetam os níveis de dopamina — substância essencial para o foco e o controle emocional. Já o Yellow 5 compromete a integridade intestinal, enquanto Blue 1 e Yellow 6 provocam reações alérgicas. Os impactos são comparáveis, em alguns casos, aos efeitos do chumbo no organismo humano.
Além disso, evidências apontam para:
Tumores em animais de laboratório Alterações no sistema nervoso central Danos cognitivos em crianças em fase de desenvolvimento
“Seguros” por décadas, apesar dos danos
Apesar dessas descobertas, os corantes permaneceram por décadas nas prateleiras e rótulos, classificados como seguros para consumo. A decisão da FDA de bani-los representa uma mudança significativa, mas que chega tardiamente para muitas gerações que já foram expostas aos riscos.
Alimentação, comportamento e responsabilidade social
A matéria ganha ainda mais relevância quando se observa o cotidiano escolar: crianças cobradas por rendimento e foco, ao mesmo tempo em que são expostas, nas merendas e lancheiras, a substâncias que comprometem justamente o funcionamento neurológico.
“O problema nunca foi o comportamento, e sim a química. A saúde começa no prato”, afirmam pesquisadores da área de nutrição infantil.
Conclusão
A decisão da FDA é um marco na história da regulação alimentar e acende um sinal vermelho para pais, escolas e instituições de saúde. É preciso repensar o que estamos oferecendo às crianças — não apenas como alimento, mas como base para seu desenvolvimento físico, mental e emocional.
